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terça-feira, 8 de outubro de 2013

SOBRE BLACK BLOCS E PROFESSORES

Repórter de Campo Frida da Silva.

A cobertura da mídia corporativa nesses últimos dias fez questão de diferenciar os adeptos da tática black bloc de professores, todos eles presentes nas manifestações do lado de fora da Câmara municipal da cidade do Rio de Janeiro pela educação, e, principalmente, pela possibilidade de diálogo com o legislativo e o executivo sobre o Projeto de Lei 442/2013, de autoria da prefeitura, aprovado na noite de terça-feira, dia 01/10.

Mas como se deu a relação entre os adeptos da tática black bloc e professores pelas ruas do Centro nessa última semana? A partir de conversas com professores e black blocs no sábado - quando a PM retirou com extrema violência os professores que ocupavam o interior da Câmara - e na terça-feira, dia em que milhares de pessoas acompanharam do lado de fora da casa legislativa a votação do plano de carreira, pôde-se perceber algumas nuances na relação desses dois grupos, que lutaram juntos nas ruas, mas com modos de agir e pensamentos distintos.

Até sábado, antes de a polícia dar início a ações violentas contra o movimento de protesto dos professores municipais, estes impediram a participação de mascarados e/ou black blocs entre o grupo de docentes que se reuniu desde quinta-feira passada dentro e fora da Câmara. Algumas professoras faziam questão de gritar que ali não havia black blocs, mas somente educadores. Não queriam se misturar com aqueles acusados de vandalismo.


Elas não imaginavam que, poucas horas depois, aqueles jovens mascarados, acampados nas escadarias da Câmara, prestariam primeiros socorros aos docentes feridos pela ação da polícia e atingidos por gás de pimenta e bombas de gás lacrimogênio, lançadas sobre o grupo de professores que cantava pacificamente na saída da Rua Evaristo da Veiga. Socorristas, os jovens black blocs ajudavam a carregar os feridos para fora da multidão, limpavam seus machucados e usavam soro fisiológico e uma solução de leite de magnésio para amenizar os efeitos do gás de pimenta nos olhos de tantas senhorinhas distintas (como na foto) que se tornaram alvo do Batalhão de Choque. 

Esta cena não foi descrita em nenhum jornal da grande mídia corporativa, como já se é de esperar. Mas arrancou lágrimas da repórter ninja que aqui escreve. Em meio ao caos do corre-corre das bombas, diversos professores eram atendidos pelos black blocs, que, acima de tudo, os acalmavam.

Apesar das divergências em métodos e pensamento, os black blocs efetivamente juntaram-se aos professores após os primeiros episódios de violência policial contra os policiais. Cada grupo com seus ideais e formar de ação política, mas todos movidos pelo desejo de melhores salários aos professores e um plano de carreira elaborado democraticamente, e não imposto.

Já na terça-feira, no ato que reuniu milhares de pessoas enquanto os vereadores votavam o plano de carreira, professores agradeceram, do alto do carro de som, o apoio dos jovens mascarados, em um gesto de reconhecimento da participação dos blocs na luta pela educação. Segundo professores presentes, os docentes estaduais já mantinham uma relação de convivência amena com os black blocs, e, desde o acirramento da violência policial contra a categoria, muitos professores municipais foram progressivamente aceitando a presença dos blocs no mesmo espaço público de manifestações

Nas páginas dos jornais e na TV, predominou a ideia de que a polícia só entrou em confronto com os black blocs, quando o que se viu pelas ruas foi a perseguição de todos os presentes, inclusive dos docentes, rua por rua, com bombas de gás lacrimogênio, da Cinelândia até a Avenida Presidente Vargas. O gás invadiu estações do metrô e atingiu quem voltava para casa do trabalho, inclusive os repórteres da grande mídia - que só então comentaram sobre essas investidas violentas da força policial. Após diversas tentativas de a PM dispersar à força os manifestantes pacíficos, a maioria deles voltou para casa, cansados de correr e respirar a fumaça tóxica. Diante do rastro de destruição e revolta pela aprovação do projeto de lei, nas ruas quase desertas e escuras do Centro, restaram aqueles indivíduos praticantes da chamada tática black bloc, os únicos ainda com fôlego para resistir fisicamente a tamanho aparto policial.








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