Repórter de Campo Frida da Silva.
A cobertura da mídia corporativa nesses últimos dias fez questão de diferenciar os adeptos da tática black bloc de professores, todos eles presentes nas manifestações do lado de fora da Câmara municipal da cidade do Rio de Janeiro pela educação, e, principalmente, pela possibilidade de diálogo com o legislativo e o executivo sobre o Projeto de Lei 442/2013, de autoria da prefeitura, aprovado na noite de terça-feira, dia 01/10.
Mas como se deu a relação entre os adeptos da tática black bloc e professores pelas ruas do Centro nessa última semana? A partir de conversas com professores e black blocs no sábado - quando a PM retirou com extrema violência os professores que ocupavam o interior da Câmara - e na terça-feira, dia em que milhares de pessoas acompanharam do lado de fora da casa legislativa a votação do plano de carreira, pôde-se perceber algumas nuances na relação desses dois grupos, que lutaram juntos nas ruas, mas com modos de agir e pensamentos distintos.
Mas como se deu a relação entre os adeptos da tática black bloc e professores pelas ruas do Centro nessa última semana? A partir de conversas com professores e black blocs no sábado - quando a PM retirou com extrema violência os professores que ocupavam o interior da Câmara - e na terça-feira, dia em que milhares de pessoas acompanharam do lado de fora da casa legislativa a votação do plano de carreira, pôde-se perceber algumas nuances na relação desses dois grupos, que lutaram juntos nas ruas, mas com modos de agir e pensamentos distintos.
Até sábado, antes de a polícia dar início a ações violentas contra o movimento de protesto dos professores municipais, estes impediram a participação de mascarados e/ou black blocs entre o grupo de docentes que se reuniu desde quinta-feira passada dentro e fora da Câmara. Algumas professoras faziam questão de gritar que ali não havia black blocs, mas somente educadores. Não queriam se misturar com aqueles acusados de vandalismo.
Elas não
imaginavam que, poucas horas depois, aqueles jovens mascarados, acampados nas
escadarias da Câmara, prestariam primeiros socorros aos docentes feridos pela
ação da polícia e atingidos por gás de pimenta e bombas de gás lacrimogênio,
lançadas sobre o grupo de professores que cantava pacificamente na saída da Rua
Evaristo da Veiga. Socorristas, os jovens black blocs ajudavam a carregar os
feridos para fora da multidão, limpavam seus machucados e usavam soro
fisiológico e uma solução de leite de magnésio para amenizar os efeitos do gás
de pimenta nos olhos de tantas senhorinhas distintas (como na foto) que se
tornaram alvo do Batalhão de Choque.
Esta cena
não foi descrita em nenhum jornal da grande mídia corporativa, como já se é de
esperar. Mas arrancou lágrimas da repórter ninja que aqui escreve. Em meio ao
caos do corre-corre das bombas, diversos professores eram atendidos pelos black
blocs, que, acima de tudo, os acalmavam.
Apesar
das divergências em métodos e pensamento, os black blocs efetivamente
juntaram-se aos professores após os primeiros episódios de violência policial
contra os policiais. Cada grupo com seus ideais e formar de ação política, mas
todos movidos pelo desejo de melhores salários aos professores e um plano de
carreira elaborado democraticamente, e não imposto.
Já na
terça-feira, no ato que reuniu milhares de pessoas enquanto os vereadores
votavam o plano de carreira, professores agradeceram, do alto do carro de som,
o apoio dos jovens mascarados, em um gesto de reconhecimento da participação
dos blocs na luta pela educação. Segundo professores presentes, os docentes
estaduais já mantinham uma relação de convivência amena com os black blocs, e,
desde o acirramento da violência policial contra a categoria, muitos
professores municipais foram progressivamente aceitando a presença dos blocs no
mesmo espaço público de manifestações
Nas
páginas dos jornais e na TV, predominou a ideia de que a polícia só entrou em
confronto com os black blocs, quando o que se viu pelas ruas foi a perseguição
de todos os presentes, inclusive dos docentes, rua por rua, com bombas de gás
lacrimogênio, da Cinelândia até a Avenida Presidente Vargas. O gás invadiu
estações do metrô e atingiu quem voltava para casa do trabalho, inclusive os
repórteres da grande mídia - que só então comentaram sobre essas investidas
violentas da força policial. Após diversas tentativas de a PM dispersar à força
os manifestantes pacíficos, a maioria deles voltou para casa, cansados de
correr e respirar a fumaça tóxica. Diante do rastro de destruição e revolta
pela aprovação do projeto de lei, nas ruas quase desertas e escuras do Centro,
restaram aqueles indivíduos praticantes da chamada tática black bloc, os únicos
ainda com fôlego para resistir fisicamente a tamanho aparto policial.
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