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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

MOVIMENTO "NÃO TEM ARREGO"


Por Repórter de campo Frida da Silva

Inspirado em um dos gritos mais entoados nas manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o Movimento Não tem Arrego nasceu numa roda de amigos frequentadores dos protestos, que decidiram vestir o lema no peito para a manifestação "Um Milhão pela Educação", no último dia 07. Camisas pretas foram pintadas artesanalmente em branco com o lema "Não tem arrego", e bótons foram confeccionados e distribuídos ao longo do ato que levou dezenas de milhares de pessoas ao Centro da cidade.

Nas escadarias da Câmara, concentravam-se dezenas de jovens e cidadãos, na segunda-feira, por volta das 16h, quando adeptos da campanha Não Tem Arrego começaram a distribuição dos primeiros bótons com o lema. Rapidamente, o boca-a-boca se espalhou e, nas escadarias da Câmara, a maior parte das pessoas exibia o broche. Alguns jovens e professoras se interessaram pelas camisas e pediram para que suas roupas pretas fossem pintadas de branco com o slogan do movimento. Quem chegava ao ponto de encontro, pedia um broche. Enquanto as camisas eram pintadas à mão, o coro cantava: “Não tem arrego! Não tem arrego!”.

Ao longo da passeata que saiu da Candelária em direção à Cinelândia os bótons continuaram sendo distribuídos. Mais professores, estudantes, cidadãos e trabalhadores que saíam dos escritórios do Centro e se juntavam à multidão passaram a exibir os broches. Figuras notórias da passeata, como o Batman e o sósia do Tiririca, também aderiram ao movimento. As camisas chamavam a atenção de curiosos e fotógrafos, que reagiam com bom humor ao ler a frase.

A cada encontro, os simpatizantes da iniciativa se interessavam em saber de onde havia surgido a ideia, como participar, e se haveria um grupo organizado no facebook. No entanto, segundo os idealizadores, a mobilização acontece de modo informal, antes e durante as manifestações, e não é institucionalizada, nem filiada a nenhum grupo político. “Não tem arrego é um grito, um sentimento compartilhado por quem vai às manifestações. Quem se identifica com a frase pode aderir espontaneamente e passar a ideia adiante”, explicou um dos envolvidos na iniciativa.

O grito “Não tem arrego” é um protesto primordialmente direcionado à polícia, em especial a militar, e faz referência ao pagamento de propina aos agentes, em troca da não repressão a atividades passíveis de incriminação. A prática do "arrego" marcou as relações entre polícia e tráfico de drogas nas favelas do Rio, nas últimas décadas, e institucionalizou-se em diversos contextos sociais. Quando a polícia está “arregada”, significa que houve negociação anterior entre as partes, logo, não haverá repressão. Muitas vezes, quando o acordo mediante o pagamento de arrego não é pré-estabelecido, pode haver uma instabilidade nas relações entre as partes, a partir da qual o conflito – armado, no caso de favelas com a presença do tráfico - pode emergir. 

Ao entoar o canto “Não tem arrego”, a população se opõe a esse tipo de prática e, ao mesmo tempo, às ações violentas da polícia. O lema carrega em si a indignação da população quanto à corrupção sistemática em setores da polícia e à repressão violenta a quem não sucumbe diante deste modelo vigente de polícia. Dizer que não há arrego significa, ainda, de um modo mais amplo, que estes cidadãos que ocupam as ruas não apoiam qualquer tipo de corrupção em nenhuma instância e não têm medo de se manifestar livremente contra estas condutas.


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