Repórter de Campo Ida Bel.
O ato público realizado nesta segunda-feira em apoio à greve dos professores da rede municipal de ensino público terminou em um ataque popular ao prédio da Câmara dos Vereadores, em retaliação à forte repressão policial evidenciada nos atos da semana anterior e à aprovação do plano de cargos e salários proposto pela secretaria de educação do governo Eduardo Paes. Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se na Candelária e seguiram pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, trazendo também às ruas outras pautas como a violência policial, a precariedade da saúde pública, greve dos bancários, remoções arbitrárias e genocídio indígena.
O ato público realizado nesta segunda-feira em apoio à greve dos professores da rede municipal de ensino público terminou em um ataque popular ao prédio da Câmara dos Vereadores, em retaliação à forte repressão policial evidenciada nos atos da semana anterior e à aprovação do plano de cargos e salários proposto pela secretaria de educação do governo Eduardo Paes. Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se na Candelária e seguiram pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, trazendo também às ruas outras pautas como a violência policial, a precariedade da saúde pública, greve dos bancários, remoções arbitrárias e genocídio indígena.
Muitos manifestantes, inclusive professores, idosos
e crianças, vestiram mascaras de gás, capacetes e óculos de proteção,
precavendo-se contra o uso de gás lacrimogêneo e spray de pimenta por parte da
polícia. Outros cobriram seus rostos com panos e camisetas em protesto contra a
proposta de lei que visa a criminalizar o uso de máscaras em manifestações. No
ato público de ontem, um elevado número de jovens aderiu à indumentária e
tática Black Bloc, trajando máscaras e roupas pretas, engajando-se em gestos
iconoclastas de ataque a imagens do poder político e econômico – o que eles
chamam de “ação direta” e a imprensa de “vandalismo” – e resistindo à ação da
polícia.
O ato seguiu pacificamente até a Cinelândia, até que
milhares de manifestantes aglomeraram-se nas imediações da Câmara dos
Vereadores e promoveram a depredação da lateral do prédio, na Rua Evaristo da Veiga,
onde também foram atingidos agências bancárias, lixeiras e pontos de ônibus. Enquanto policiais do Grupamento de
Policiamento de Proximidade de Multidões (GPPM) – apelidados de alfa-numéricos
– mantinham-se em formação a cerca de 100m da câmara, manifestantes picharam a
fachada do edifício e quebraram as vidraças de janelas e portas com pedras,
lançando morteiros e coquetéis molotov para o interior. Um grupo menor de
rapazes explodiu bombas e jogou pedras na lateral oposta do prédio. Após cerca
de trinta minutos assistindo à “ação direta” dos manifestantes, policiais
começaram a dispersar a multidão com o apoio da tropa de Choque, lançando
bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás de pimenta. Houve correria e
muitas pessoas passaram mal com o efeito do gás.
Após a dispersão, os adeptos da tática Black Bloc
espalharam-se pelo centro da cidade em grupos menores, destruindo uma série de agências
bancárias, formando barricadas com sacos de lixo, fogueiras e ateando fogo em
um ônibus para bloquear a rua e impedir a passagem da polícia. Chegaram
inclusive a lançar pedras e coquetéis molotov contra o consulado americano. Iniciou-se
uma intensa perseguição policial aos manifestantes pelos bairros do Centro,
Lapa e Glória e, mais uma vez, a polícia lançou bombas contra todos os que se
aglomeravam nas ruas, estivessem ou não praticando ataques ao patrimônio
público e privado. Vídeos divulgados na internet mostraram o uso por parte da
polícia de bombas de alta potência – conhecidas como “blue hell” – proibidas
pela legislação nacional.
Diferentemente da postura adotada na terça-feira
passada, quando a polícia cercou a Câmara dos Vereadores com grades e iniciou preventivamente
um violento ataque a professores e demais manifestantes para garantir que não
atrapalhassem a votação do plano de cargos e salários, desta vez a polícia optou
por manter-se distante dos manifestantes e aguardar que depredassem bastante o
prédio para só então dispersar a multidão. Nesse interstício, a massa de
manifestantes agrupada na lateral da câmara vibrava em apoio à ação dos Black
Bloc. Tamanha ênfase na estratégia iconoclasta de protesto – a destruição
deliberada de ícones – intensificou-se devido à profunda indignação popular
contra a injustificável violência policial da semana anterior e contra a
atitude dos vereadores de aprovar o plano de cargos e salários sem antes
debatê-lo com o sindicato dos professores.
Instalou-se na Cinelândia uma verdadeira revolta
popular direcionada às instituições supostamente democráticas que vêm se
recusando a ouvir as vozes da rua e representar seu eleitorado; à polícia que
impõe um modelo arbitrário de ordem e cerceia o direito à livre manifestação; e
à priorização do interesse de empresários pelas políticas públicas e
investimentos, em detrimento aos interesses da população. Assistimos a um
momento crítico para a democracia representativa, em que o poder público encontra-se
diante do dilema de optar pela ampliação dos mecanismos de participação popular
democrática nas decisões políticas ou recrudescer a repressão policial às
manifestações, colocando em risco a legitimidade do regime político vigente.
Genial!!
ResponderExcluirEspetacular!
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